quarta-feira, 24 de julho de 2019

FESTA DE SANTO ANTÔNIO DO QUILOMBOLA PARAGUAI - Patrimônio Cultural Imaterial Inventariado de Felisburgo

O Quilombola do Paraguai foi povoado por escravos fugitivos das regiões de garimpo do Alto Jequitinhonha e sua fundação é anterior à fundação da povoação que deu origem à cidade de Felisburgo. Antigos moradores relataram que, seus ancestrais, cultivavam mandioca, milho, arroz e feijão em áreas abertas na mata e, constantemente, eram atacadas por macacos.

“Os macacos não davam sossego e eram muitos! Então, nossos avós, se uniam em caçadas aos bichos. Numa destas caçadas, mataram dezenas deles. Na ocasião, estava acontecendo a Guerra do Paraguai e a matança dos animais foi comparada aos fatos da própria guerra, daí, a inspiração para o nome da Comunidade Quilombola".

A fé dos quilombolas se baseia no sagrado do catolicismo e no profano das manifestações culturais e artísticas dos ancestrais. Na pesquisa, a Equipe Técnica não conseguiu desvendar ainda as razões do culto a Santo Antônio, uma vez que, o registro destas populações descendentes de escravos se direciona pela fé em Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.  Só se ouviu um comentário de uma moradora antiga, a Sra Noeme Marques de Matos, que disse:

“Nossos avós tinham nomes de Antônio e, quase todos os nenéns que nasciam eram batizados com um primeiro nome acompanhado de Antônio... São muitos José Antonio, Manoel Antônio...”.

Pode ser que a homenagem a Santo Antônio tenha ligação com este comentário, mas não se pode confirmar. A Festa de Santo Antônio celebra, antes de tudo, a liberdade e representa a cultura negra e sertaneja da identidade do Quilombola. A continuação desta celebração precisa continuar viva, pois mantém a memória, a história e a resistência dos moradores da localidade.








INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

A Festa de Santo Antônio, padroeiro da Comunidade Quilombola Paraguai, mantém-se viva e preserva as características originais, conforme averiguação da Equipe Técnica do Patrimônio Cultural de Felisburgo. A Equipe Técnica e um historiador, neste ano de 2018, participaram da agenda do evento. Em janeiro, aconteceu a primeira reunião na comunidade com o objetivo de formar as Comissões de Trabalho (Litúrgica, gastronomia, atividades culturais, esporte, dentre outras), Coordenação Geral (3 pessoas) e o Plano de Trabalho. Nos meses seguintes, a Equipe Técnica acompanhou o desdobramento das ações e, no período de 01 a 13 de junho, na realização, prestou assistência efetiva ao evento. Em 01 de junho, numa cerimônia religiosa, a comunidade celebrou o primeiro dia da Trezena de Santo Antônio. Estas celebrações duram 13 dias e, geralmente, acontecem na Igrejinha. Vale ressaltar que, a Trezena é dotada de ritos da religiosidade e cultura popular local específicos. Cito: Reza do Terço, cantos religiosos tradicionais, folia de reis, leituras da Bíblia e da Biografia do santo homenageado. Após as celebrações acontecem rodas de batuques que duram até bem tarde da noite. No dia 13, data em que se comemora Santo Antônio, a programação começa bem cedinho com um Torneio de Futebol no campo da comunidade. Neste ano, participaram as equipes das comunidades Paraguai, Prata, Tanque e da cidade de Felisburgo. Ao meio dia, serviu-se um almoço comunitário e, a partir das 16 horas, o Cerimonial Litúrgico. A comunidade se reuniu, inicialmente, na casa onde a bandeira ficou guardada no último ano, de onde saiu em procissão até a igrejinha do Santo Padroeiro para a celebração da Santa Missa. Após a Missa, em clima de muita alegria, levantou-se o mastro com a Bandeira de Santo Antônio. Momento ímpar da Festa com Fogos de artifícios iluminando o céu e sintonizados com o canto nostálgico dos foliões e batuqueiros do quilombola. A quermesse, a parte final do evento vem acontecendo no espaço comunitário denominado “Rancho”, com barraquinhas, leilões, apresentações culturais, forró e muita animação. A Festa de Santo Antônio é, sem dúvida, uma das manifestações culturais mais importantes do Município de Felisburgo e precisa ser protegida para as gerações futuras. O CDMPC – Conselho Deliberativo de Proteção do Patrimônio Cultural entende e determina que por configurar-se num evento de representatividade tradicional comunitária da memória do povo que sejam feitos planos de salvaguardas e elaboração do dossiê de Registro do bem imaterial para os próximos exercícios. Portanto, a Festa de Santo Antônio tem recebido investimento e está indicada para Registro.

As festividades de Santo Antônio apresentam elementos representativos e simbólicos importantes para a compreensão dos ritos desenvolvidos durante as celebrações.  Mastro e Bandeira de Santo Antônio; Estandartes de Santo Antônio; Vestimentas de chita dos foliões e batuqueiros do quilombola; violões, tambores de percussão, sanfonas, pandeiros; velas; fogos de artifícios.

A Festa de Santo Antônio foi aprovada para fins de inventário e indicada para registro pelo CDMPC – Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Felisburgo, conforme Ata da Reunião do dia 03 de julho de 2014 e referendada na reunião do Conselho do dia 14 de setembro de 2018. O Bem foi declarado aceito e aprovado pelo IEPHA em junho de 2019


Frente da Igrejinha sendo preparada para as celebrações do dia de Santo Antônio. (Gladiston – Junho/2018)

Rancho da Comunidade com estrutura montada ao lado para a quermesse – (Gladiston Junho/2018)

Ornamentação das tendas e barraquinhas – (Gladiston – Junho/2018)

Ornamentação do Rancho – (Gladiston – junho/2018)

Palco do evento – (Gladiston – junho/2018) 

Torneio de Futebol – Equipe Quilombola Paraguai – Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho/2018

Torneio de Futebol – Equipe Comunidade do Tanque – Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho/2018

Torneio de Futebol – Equipe Fortaleza de Felisburgo – Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho/2018

Almoço Comunitário – (Gladiston – Junho 2018)

Estandarte de Santo Antônio – (Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho 2018)

Brincadeira do Pau de Sebo – (Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho/2018)

Concentração da Quadrilha – (Arquivo fotográfico da Comunidade Paraguai – Junho/2018)

Procissão da “Levada da Bandeira” – Gladiston – Junho/2018)

Celebração da Santa Missa em homenagem a Santo Antônio – Gladiston – Junho/2018)

Celebração da Trezena de Santo Antônio – (Arquivo fotográfico da Comunidade do Paraguai – Junho/2018)

Contradanças e batucadas após à celebração da Trezena de Santo Antônio – (Arquivo fotográfico da Comunidade do Paraguai – Junho/2018)

  DOCUMENTOS ANEXOS
Fotografias
X
Áudios

Ata(s)
X
Vídeos



FICHA TÉCNICA
Fotografias
Acervo da Comunidade Quilombola Paraguai e Gladiston Batista de Araújo
Vídeos

Áudios

Transcrição
Paula Andréia Costa Santos
Levantamento
Gladiston Batista de Araújo, Paula Andréia Costa Santos e João Pedro Félix
Elaboração
Gladiston Batista de Araújo
Revisão
Paula Andréia Costa Santos e Azenilda Camargo Costa

Local e Data
20 de novembro de 2018





terça-feira, 23 de julho de 2019

FESTA DA BANDEIRA DE SENHOR BOM JESUS DA PRATA - Patrimônio Cultural Imaterial Inventariado de Felisburgo

“Oh gente! Oh gente! Que louvor é esse? - Estou louvando a Bandeira do Bom Jesus!”

Estes versos do bendito tradicional atravessam as gerações das famílias que habitam a Comunidade da Prata, em Felisburgo. Eles mexem com a emoção e fortalecem o sentimento de pertencimento do povo em relação ao Santo Padroeiro Senhor Bom Jesus da Prata. Não temos como registrar a história do lugar de maneira dissociada da fé que une a comunidade ao seu padroeiro. A fé e cultura dos pratenses externizam-se de modo muito particular nas manifestações em torno de Senhor Bom Jesus e acontecem desde o início do povoamento da região. “Em toda casa tem um quadro de Senhor Bom Jesus na parede... Ele abençoa a família... Ele é bom!”. – Comenta um sertanejo que encontramos na estrada, bem na entrada da comunidade, a caminho da Festa da Bandeira.


A Festa da Bandeira é um acontecimento que extrapola a religiosidade, pois agrega cantos, danças, imagens e ritos do folclore e da cultura popular da região e retrata a Identidade da população. Não sei se daria para imaginar a vida da comunidade sem a Festa de levantamento da Bandeira, mas o hipotético fim do evento causaria um empobrecimento inimaginável para todos os felisburguenses. Daí, providenciar em favor de sua existência é muito necessário e de responsabilidade de todos. Além disso, fortalecer e preservar esta tradição poderá abrir perspectivas para ações de incentivo ao turismo, geração de renda, pesquisas e, claro, garantir o bem para as gerações futuras.














INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

A festa da Bandeira, conforme informações expressas no inventario de 21 de novembro de 2017 e apresentado ao IEPHA no Exercício 2019, é uma celebração de cunho religioso e cultural que traduz  a alma do povo da Comunidade Rural da Prata, no Município de Felisburgo. A Festa homenageia o Senhor Bom Jesus, Padroeiro da localidade, em 06 de agosto de cada ano. Em 2017, a Equipe Técnica realizou o trabalho de pesquisa com o objetivo de registrar o evento como Patrimônio Imaterial, por entender que ela além de ser representar as tradições culturais e religiosas da Prata, vem mostrando sua força e influência em todo o território felisburguense. Neste ano, 2018, a Equipe retornou à Comunidade para buscar mais informações e acompanhar o desenvolvimento das atividades da Edição 2018 da Festa.

Rogério Barbosa, líder da comunidade, adiantou-nos sobre a reunião preparatória que sempre acontece em maio, com a finalidade de eleger a Coordenação Geral e as Comissões de Trabalho. Na dita reunião formam-se as seguintes equipes: Liturgia, Torneio de Futebol, quermesse, alimentação, comidas típicas, infraestrutura e ornamentação. Dali em diante, inicia-se a organização da Festa. “A gente vai preparar a nossa parte e aguardar pela carta do “ladrão” que revelará os ladrões da Bandeira e de como se dará a entrega no dia da Festa”. – destacou, fazendo referência da tradição da “roubada da Bandeira”, costume antigo de participantes que, na madrugada, sobem no alto do mastro e tiram a bandeira. O ato de roubar a Bandeira credencia(m) ao(s) ladrão (ões) de organizar (em) a outra parte do evento, a “Festa dos Entregadores” e de entregar a Bandeira para o hasteamento no ano seguinte. - “Os ladrões guardam o segredo do “roubo” e só se revelam na carta que nos é enviada um mês antes da Festa”. – Completou.

No dia da Festa, logo de manhãzinha, aconteceu o Torneio de Futebol envolvendo equipes da cidade de Felisburgo, da comunidade da Prata, Comunidade Quilombola do Paraguai e de Santa Helena de Minas. Ao meio dia foi servido o almoço comunitário. No intervalo de almoço, a Equipe Técnica foi informada da identidade dos ladrões do ano, um grupo de mulheres lideradas por Margareth Magalhães, Fátima Brandão, Mariléia Rodrigues Magalhães e Soraya Figueiredo. Soube-se ainda que a festa dos entregadores estava acontecendo numa fazenda vizinha de propriedade da professora Neily Chaves. A Equipe se dirigiu para o lugar indicado e encontrou um grupo grande de pessoas que se confraternizavam com as “ladras”. Registrou-se a intensa atividade da Festa paralela à da Comunidade. Terço, churrasco, batucadas deram o tom da confraternização.


Enquanto isso, na sede da comunidade, às 16 horas, celebrou-se a missa, o terço e, no final dos rituais litúrgicos, saíram em procissão pelas ruas do entorno da igreja. Restava ainda o momento máximo da Festa: a chegada da Bandeira do Bom Jesus! Pouco mais das 18 horas, o foguetório anunciou a aproximação do grupo de entregadores. A Comunidade respondeu com mais fogos de artifício e a boca da noite rendeu-se ao barulho dos fogos que ecoaram além das montanhas e se viu com o céu tomado de pontos multicores.  É arrebatador! As procissões se encontram e, se dirigem para o interior da igreja, onde seguem os louvores, agradecimentos e elogios. No último ato do evento, os participantes rodam três vezes o perímetro de ruas que circulam a igreja do Padroeiro, só então, a Bandeira com a imagem do Santo estampada é erguida no mastro. A Festa termina com a distribuição de biscoitos de polvilho.

A Festa da Bandeira foi aprovada para fins de inventário e indicada para registro pelo CDMPC – Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Felisburgo, conforme Ata da Reunião do dia 14 de setembro de 2018.

Foto antiga de quando o Cortejo de “Levada da Bandeira” era a cavalo - (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – Data desconhecida)

Foto antiga destacando um dos andores da Procissão de Senhor Bom Jesus – (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – Data desconhecida)

Foto antiga destacando um dos andores da Procissão de Senhor Bom Jesus e a barraquinha de comidas e bebidas típicas coberta de palha – (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – Data desconhecida)

Foto antiga da Procissão de Senhor Bom Jesus – (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – Data desconhecida)

Foto antiga mostrando o início da Procissão de Senhor Bom Jesus – (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – Data desconhecida)

Foto destacando o andor de Senhor Bom Jesus – (Arquivo Histórico da Comunidade da Prata – 2003)

Celebração da Santa Missa – (Arquivo da Comunidade da Prata - Agosto/2004)

Festeiras “ladras” da Bandeira – (Gladiston - Agosto/2017)

Festa dos Entregadores da Bandeira – Fazenda de Luizinho – (Gladiston – Agosto/2017) 

Apresentação Musical do Grupo Folclórico Espaia Brasa na Festa dos Entregadores da Bandeira – (Gladiston –Agosto/2018)

Estrutura física da Festa da Bandeira – (Gladiston –Agosto/2018)

Partida de Futebol valendo pelo Torneio da Festa da Bandeira – (Gladiston – Agosto/2018)

Almoço Comunitário – (Gladiston – Agosto/2018)

Altar erguido para a Celebração do Terço em honra a Bom Jesus – (Gladiston – Agosto/2018

Celebração da Santa Missa – (Gladiston – Agosto/2018)

Procissão do Senhor Bom Jesus saindo da igreja – (Gladiston – Agosto/2018)

Chegada da Bandeira à Comunidade – (Gladiston – Agosto/2018)

Louvação à Bandeira do Bom Jesus no interior da igreja – (Gladiston – Agosto/2018)

Levantamento do Mastro – (Gladiston – Agosto/2018)


              FICHA TÉCNICA
Fotografias
Gladiston, Arquivo da Prata
Vídeos

Áudios

Transcrição
Paula Andréia Costa Santos
Levantamento
Gladiston Batista de Araújo, Paula Andréia Costa Santos e João Pedro Félix
Elaboração
Gladiston Batista de Araújo
Revisão
Paula Andréia Costa Santos e Azenilda Camargo Costa

Local e Data
20 de novembro de 2018