"Meu amigo, a dor alheia, como a terra, também sente porque nós pisamos nela, ela então, pisa na gente!"
(Luiz Homero de Almeida)
Luiz Homero de Almeida |
LUIZ HOMERO DE ALMEIDA nasceu em Felisburgo / MG, em 01 de fevereiro de 1928, filho de
Homero de Almeida e Leontina Melo de Almeida. Em 1950 publicou o livro de
poesias "Dor" e, em 1954, "Na Encruzilhada das Veredas".
ELOGIO DE UM BARDO
À ANTIGA
(Prefácio do Livro
Dor de Luiz Homero de Almeida)
O poeta, cujos
versos se vão ler páginas adiante, nasceu às margens do rio Jequitinhonha, no
extremo Norte de Minas, região de pedrarias, de mistérios e lendas... “Extranho”
rio esse! Nasce angustiado entre serranias, foge delas em gargantas que se
dizem do inferno, carreando diamantes em suas águas e, mais adiante, quando se
espraia, arrecada toda a gama das pedras coroadas, com o ouro que já vinha em
suas areias, desde que brotou lá ao longe nas áridas penedias do seu berço.
Esse poeta, que de
tão longe nos vem, traz-nos também, em seus versos, uma certa contradição,
quando no esplendor da vida sente dores que, afinal, são apenas as angústias da
juventude, a pressa de viver os esplendores do amor e da contemplação das
belezas da existência.
O ritmo e a rima
com que ele sabiamente insiste em lapidar os seus versos, nos mostra que nele
revive a ânsia da perfeição de um espírito clássico e ordenado, que sabe cantar
as harmonias da vida em magníficos acordes poéticos. Não se deixou envolver
pela chatice dos temas inferiores, que podem ser filosofia sintética, mas que
não arrebatam a alma, o que é o verdadeiro destino da poesia. Ele sente e canta
como um bardo à antiga, e busca, nos sentimentos, as inspirações para os seus
cantos. Mas assim fazendo, é entretanto novo em suas formas de sentir e de interpretar os seus
estados de alma.
Eis aí em largos
traços, o que me ocorre dizer deste poeta do Jequitinhonha, cuja estréia nas
letras é promissora.
Eu não terei tempo
de assistir seus novos triunfos, quando ele receber a coroa dos louros de uma
consagração definida. Mas, tenho a certeza de que não tardará muito que o
Brasil volva os olhos para este jovem LUIZ HOMERO DE ALMEIDA, natural de
Felisburgo, nome burocrático do antigo e romântico arraial de São Sebastião do
Jequitinhonha.
Bem vindo seja pois,
à convivência das letras, este moço garimpeiro de belezas, bardo das margens do
lendário e misterioso Belmonte. (Augusto de Lima Júnior)
Dedicatória de Luiz Homero de Almeida à Baptista Brazil no Livro Dor |
RODA, BAMBEIA PIÃO!
(Ao meu avô
Ponciano Pereira de Melo)
Anda o ditado
falando,
Que recordar é
viver...
Mas eu vos digo
chorando,
Que recordar é
sofrer
Felisburgo, minha
terra,
É um emblema de
beleza
Como a própria
natureza.
Minha casa era na
serra,
Uma casinha
amarela,
Lá bem perto da
amplidão.
E, quando a noite
era bela,
Eu, na rua, ia
rodar
Roda, bambeia pião!
Eu só sabia cantar...
Preta Joana outrora
vinha
Para junto da
fogueira,
Contar uma lenda
inteira
De algum rei ou
princesinha.
E, na noite
enluarada,
Era velha tradição
Nas ruas a meninada
Fazer rodas e
brincar
Roda, bambeia pião!
Eu só sabia cantar...
Assim, cantando e
sorrindo,
Não via o tempo
passando...
Depois, Mãezinha
brigando
- Devias estar dormindo!
Com os sonhos eu
dormia...
A pulsar meu
coração
Esperava o outro
dia
Para, assim, poder
falar
Roda, bambeia pião!
CREPÚSCULO EM
FELISBURGO
(À professora Dona
Maria Cândida da Silva)
Tarde... na minha
terra tudo canta...
O vento passa e
beija as laranjeiras
Deixando atrás
gemidos da garganta...
Na minha terra
cantam as cachoeiras.
Tarde... Na minha
terra, a catedral
Envia a voz dos
sinos à montanha...
E os pássaros que
moram no arraial
Vão solfejando uma
cantiga estranha.
Tarde... na minha
terra um som profundo
Das rezas tristes
pelos ares erra...
O canto mais bonito
deste mundo
É a Ave Maria lá da
minha terra!
Tarde... na minha
terra morre o dia...
E aqui, distante, nesta
soledade,
Quero cantar
também... mas da agonia
Vem-me um soluço
triste de saudade...
Felisburgo - Década de 1920 |
Livro Dor – Luiz Homero
de Almeida
Publicado em 1950
Editora Minas
Gerais S/A
Belo Horizonte
OBS.: Publicação em construção.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.