terça-feira, 9 de junho de 2020

LUIZ HOMERO DE ALMEIDA

"Meu amigo, a dor alheia, como a terra, também sente porque nós pisamos nela, ela então, pisa na gente!"
(Luiz Homero de Almeida)


Luiz Homero de Almeida
LUIZ HOMERO DE ALMEIDA nasceu em Felisburgo / MG, em 01 de fevereiro de 1928, filho de Homero de Almeida e Leontina Melo de Almeida. Em 1950 publicou o livro de poesias "Dor" e, em 1954, "Na Encruzilhada das Veredas". 

ELOGIO DE UM BARDO À ANTIGA

(Prefácio do Livro Dor de Luiz Homero de Almeida)

O poeta, cujos versos se vão ler páginas adiante, nasceu às margens do rio Jequitinhonha, no extremo Norte de Minas, região de pedrarias, de mistérios e lendas... “Extranho” rio esse! Nasce angustiado entre serranias, foge delas em gargantas que se dizem do inferno, carreando diamantes em suas águas e, mais adiante, quando se espraia, arrecada toda a gama das pedras coroadas, com o ouro que já vinha em suas areias, desde que brotou lá ao longe nas áridas penedias do seu berço.

Esse poeta, que de tão longe nos vem, traz-nos também, em seus versos, uma certa contradição, quando no esplendor da vida sente dores que, afinal, são apenas as angústias da juventude, a pressa de viver os esplendores do amor e da contemplação das belezas da existência.

O ritmo e a rima com que ele sabiamente insiste em lapidar os seus versos, nos mostra que nele revive a ânsia da perfeição de um espírito clássico e ordenado, que sabe cantar as harmonias da vida em magníficos acordes poéticos. Não se deixou envolver pela chatice dos temas inferiores, que podem ser filosofia sintética, mas que não arrebatam a alma, o que é o verdadeiro destino da poesia. Ele sente e canta como um bardo à antiga, e busca, nos sentimentos, as inspirações para os seus cantos. Mas assim fazendo, é entretanto novo em suas  formas de sentir e de interpretar os seus estados de alma.

Eis aí em largos traços, o que me ocorre dizer deste poeta do Jequitinhonha, cuja estréia nas letras é promissora.

Eu não terei tempo de assistir seus novos triunfos, quando ele receber a coroa dos louros de uma consagração definida. Mas, tenho a certeza de que não tardará muito que o Brasil volva os olhos para este jovem LUIZ HOMERO DE ALMEIDA, natural de Felisburgo, nome burocrático do antigo e romântico arraial de São Sebastião do Jequitinhonha.

Bem vindo seja pois, à convivência das letras, este moço garimpeiro de belezas, bardo das margens do lendário e misterioso Belmonte. (Augusto de Lima Júnior)


Dedicatória de Luiz Homero de Almeida à Baptista Brazil no Livro Dor


RODA, BAMBEIA PIÃO!
(Ao meu avô Ponciano Pereira de Melo)

Anda o ditado falando,
Que recordar é viver...
Mas eu vos digo chorando,
Que recordar é sofrer
Felisburgo, minha terra,
É um emblema de beleza
Como a própria natureza.
Minha casa era na serra,
Uma casinha amarela,
Lá bem perto da amplidão.
E, quando a noite era bela,
Eu, na rua, ia rodar
Roda, bambeia pião!
Eu só sabia cantar...

Preta Joana outrora vinha
Para junto da fogueira,
Contar uma lenda inteira
De algum rei ou princesinha.
E, na noite enluarada,
Era velha tradição
Nas ruas a meninada
Fazer rodas e brincar
Roda, bambeia pião!
Eu só sabia cantar...

Assim, cantando e sorrindo,
Não via o tempo passando...
Depois, Mãezinha brigando
- Devias estar dormindo!
Com os sonhos eu dormia...
A pulsar meu coração
Esperava o outro dia
Para, assim, poder falar
Roda, bambeia pião!



CREPÚSCULO EM FELISBURGO
(À professora Dona Maria Cândida da Silva)

Tarde... na minha terra tudo canta...
O vento passa e beija as laranjeiras
Deixando atrás gemidos da garganta...
Na minha terra cantam as cachoeiras.

Tarde... Na minha terra, a catedral
Envia a voz dos sinos à montanha...
E os pássaros que moram no arraial
Vão solfejando uma cantiga estranha.

Tarde... na minha terra um som profundo
Das rezas tristes pelos ares erra...
O canto mais bonito deste mundo
É a Ave Maria lá da minha terra!

Tarde... na minha terra morre o dia...
E aqui, distante, nesta soledade,
Quero cantar também... mas da agonia
Vem-me um soluço triste de saudade...

Felisburgo - Década de 1920



Livro Dor – Luiz Homero de Almeida
Publicado em 1950
Editora Minas Gerais S/A
Belo Horizonte

OBS.: Publicação em construção.

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