POEMAS PREMIADOS NA NOITE LITERÁRIA "Ribeirão Pirosca" - III FEST ÁGUA - Festival da Cultura Popular de Felisburgo em Consonância com o Meio Ambiente - A Cultura a Serviço da Biodiversidade. - 28 de abril de 2018
1° Lugar
DESCANSE EM PAZ
(Herena Barcelos - Itinga-MG)
Do Rio Doce, De
Mariana,
De Minas, do
Brasil, do Mundo.
Procura-se os
culpados
Da sujeira que
cobre
Nosso presente.
Perdoados nossos
pecados.
Pois, embora sempre
ausentes,
Ainda agora,
desavisados,
Estávamos
devidamente enlutados
Por nossos rios
secos.
Sufocou-se a
esperança.
Agora é a lama
podre
De resto de ferro e
ganância
Que vai corando os
leitos,
Empurrando no peito
o que encontrar.
Assusta o grito das
águas,
Mas é pior a
corrente do silêncio,
Que leva a tristeza
pro mar.
Uma oração para os
corpos inocentes
Que existem agora
sem alma, sem cura,
Sem gente, sem
vida, sem viço,
Sem peixe, sem
barco, sem rede.
A dúvida, já não
futura:
O que será da nossa
secura,
Se mesmo os rios
que inda correm,
2° Lugar
Paisagem
da Morte
(Vicentino Rodrigues - Itinga-MG)
O
sol castiga a terra.
Leitos
de areia,
Natureza
pálida,
Semente
prisioneira.
Cheiro
de carniça,
Atalhos
de ossadas,
Gado
na maiada agoniza.
Pássaros
partem em revoada.
Cruz
na beira da estrada
De
quem cumpriu sua sina,
Casa
velha, abandonada.
Rastros
se misturam na caatinga.
A
morte é andarilha desinquieta.
A
fome faz ronda no sertão.
A
partida sem rumo é incerta,
Pois
ainda restam raízes nesse chão.
3° Lugar
Princesa
Do Sertão
O
seu choro ecoou pelo serrado
Quando
a água do riacho secou
E o
céu azulado
Sob
o sol escaldante
Ceifando
a vida
Roubando
sua cor
Entre
arvores de galhos retorcidos
O
gado está magro
E a
plantação
Já
se perdeu
Os seus
pés estão cansados
Empoeirados
pelo chão
Que
já não celebra a vida
Desemboca
Rio Pardo
Desemboca
Rio Doce
Pra
nunca mais voltar
Chora
Mariana
Enche
a Cantareira
Caminho
de boto é descaminho
Nas
águas do Andirá
Peixe
no anzol,
Desconjuro
no fundo do furo
Homem
inventa fim pra si
OUTROS POEMAS DA NOITE LITERÁRIA "Ribeirão Pirosca"
Clamor
à Fonte da Vida
(Bárbara Oliveira - Felisburgo)
Hoje enquanto passeava
Ouvi um grito que ressoava
Era minha mãe verde
Me dizendo estar com sede
E perguntando onde me
encontrava
Disse: Mãe, eu estava aos
prantos me derramando
Então ouvi a senhora me
chamando
Mãe, já não vejo as minhas
margens
Nem reflito as mesmas
paisagens
Estou me acabando...
Ela disse: Filha, teu choro
é em vão!
Então porque essa tempestade
no coração?
Nas terras onde passo
Já não vejo mais o barco
Do poeta que o remava a mão
Então já não via também a
beleza
E já não tinha a certeza
Que não o veria mais remar
Estou me acabando, quem vai
me consolar?
Mãe natureza?
Ela disse: Eu me reciclo,
E você água, só pode seguir
o teu ciclo.
Pois se tu parar
Tudo vai se acabar,
Continue mesmo que seja um
microciclo
Vá, continue sua trajetória
Esses momentos guarde na
memória!
Pois se um dia teu ciclo
morrer
Todos, até eu vou perecer
Repensando a filosofia
humana de salvar,
E refazer a presente história.
Acinzentaram o mundo.
(Daniel Davíe Pereira - Medina-MG)
Nas planícies cinzentas,
Nos mares sem mar..
Na lua ensolarada,num sol de luar...
Na vida de idas...nas paz de brigas...
No mundo desbotado,sem cor ou ar,sigo cambelando,de
tristeza vou voar.
Mas cadê as asas,seu dotô?
Como é que eu vou...só sei que vou ..vou caminhar
Nas ondas de lamas
Nas areias que ardem,
Nos barcos sem rios,
Nas fontes sem água
Vidas de desafios
Seu Dotô,eu vou..
Como é que eu vou?? ...só sei que vou ..vou caminhar
Ar....ar...ar.. ar...!!!!
Eu vou..seu dotô eu vou...eu vou caminhar
Ar.. ar...ar...ar...!!!
Nas noites claras de sol...agora caem dos céus,as
estrelas estão soltas...não vejo nuvens,não há sombrear...
Não vejo animais vivos,nem presenças “secular”...só mortes
e dores
Podridão e horrores
Seu Dotô,eu vou..
Como é que eu vou?...só sei que vou ..vou caminhar
Eu vô..eu vô..seu dotô
Seu dotô eu ,eu vou tentar caminhar
Caminhando a galope,nos quatros cantos do mundos a só
lamentar,
Vidas finitas,choro e rangeres de ossos
Silêncio infernais dos pássaros
Eu no meu pranto,enlouqueço e canto
Como é que eu vou?...só sei que vou ..vou caminhar
Eu vô..eu vô..seu dotô
Seu dotô eu ,eu vou tentar caminhar
Foste essa a herança que deixaste,um mundo sombrio e
negro
Sem verdes ou cores,acinzentando-nos minuto a minuto,
Quem culpa temos seu Dotô??... que culpa temos??
Mas, eu vou,eu vou seu Dotô, seu que vou caminhar...
Sei que vou caminhar...
Sei que vou
Sei que
Sei...
ECO LÓGICO
(Emídio Adalberto - Itinga-MG)
Se aos pássaros perguntares.
Quem polui os nossos ares,
onde os pulmões se consomem,
o eco, lógico, responde:
... homem... homem... homem...
E o húmus de nosso chão,
que resta pro nosso pão
logo após uma queimada?
O eco, lógico, responde:
... quase nada... quase nada...
O que era o Saara?
A Amazônia o que será?
Um futuro muito incerto?
O eco, lógico, responde:
... só deserto... só deserto...
O que reta, desmatando,
o que sobra, devastando,
ao homem depredador?
O eco, lógico, responde:
... só a dor... a dor... a dor...
Que precisa a natureza
pra manter sua beleza
e amainar a sua dor?
O eco, lógico, responde:
... mais amor... amor... amor...
(Emídio Adalberto - Itinga-MG)
Quem polui os nossos ares,
onde os pulmões se consomem,
o eco, lógico, responde:
... homem... homem... homem...
E o húmus de nosso chão,
que resta pro nosso pão
logo após uma queimada?
O eco, lógico, responde:
... quase nada... quase nada...
O que era o Saara?
A Amazônia o que será?
Um futuro muito incerto?
O eco, lógico, responde:
... só deserto... só deserto...
O que reta, desmatando,
o que sobra, devastando,
ao homem depredador?
O eco, lógico, responde:
... só a dor... a dor... a dor...
Que precisa a natureza
pra manter sua beleza
e amainar a sua dor?
O eco, lógico, responde:
... mais amor... amor... amor...
(Luana Souza Viana - Felisburgo)
Quero te falar sem ofensas de um negócio
Eu sou matuto mas, um bom “poeteiro”
Não é venda, não é compra, mas é coisa de sócio.
Meu bem, nem tudo na vida envolve dinheiro.
Você tem medo de onça e de cobra
Não pechincha, paga caro no produto de couro.
Porque tem ganância e vaidade de sobra
Para a tal elite ostenta como se fosse ouro
E digo mais, tem coisas que não convém.
É tanta avareza, luxúria e desperdício.
Seu fim será na cova como um Zé ninguém
Aqui onde se vive mais parece um hospício
Este seu Meio já nem é tão verde assim
Pintaste as paredes de tantas cores
Preocupaste com tantas dores
Egoísta não conhece o meio do jardim
Por fim, veste pelo e usa jóias de Marfim.
Tantos luxos, futilidades e bens materiais.
Tudo em vão, tudo em troca de dim dim
Desconhece flores e outras belezas naturais
Acerto
de contas
(Mário Monttinny - Jequitinhonha)
Água , Água
Terra seca
Não seja carrasca,
Oh mãe natureza, escute
minha peleja.
Salva, Água.
Eu falei contigo
Era o trato amigo
Mas você não quis cumprir
Eu cuidava de você
Você cuidava de mim
Olhe bem sua memória
Reveja sua trajetória
Olha o troco que me deu
Pegou fundo a sua ganância
Você que saiu das minhas
entranhas
Mostrou que nunca se
importou
Maltratou-me
Eu pedia socorro
Socorro
Pareceu ser pouco
Você fingiu não ouvir
Meu rio doce, você fez
amargo
Meus pés de árvore , você
fez descalço
Não pensou no caso
Feriu a mim.
Arrancou minhas plantas
Meus filhos , passarinhos
Você os tirou do ninho
E quando não os queimava, em
uma jaula os trancava
Mas trancava a mim.
Meu verde virou preto
Vejo-te agora em desespero
Eu mostrei que estava fraca
Que tudo que não se cuida,
acaba
E acabou aqui
Parabéns bicho homem
O que tudo de bom consome
Você consumiu a mim
Agora é seu fim
Não tem mais jeito
Beba seu dinheiro , beba seu
desprezo
Pois foi por eles que você
me trocou.
Um rio
(Octacílio Mendes - Itinga)
Jequitinhonha
a caminho do mar
Leva
saudades que estão a rolar.
Leva
cantiga
Em
prosa e em verso.
Leva
as tristezas, o universo.
Suas
águas tranquilas
Passam
serenas
Por
entre Itinga,
Banhando
o povo.
Águas
de vida,
Repassa
de novo.
As
águas que passam
São
lágrimas que rolam
De
sofrimento, de fome que assolam.
A
água produz e faz sempre
Guiar
o povo do Vale
Que
vive a mudar.
À
noite em seu leito estão a descansar
As
poucas onhas
Que
o mercúrio não conseguiu matar.
Pela
manhã no cais de Itinga
As
professoras e sua rotina
Cruzam
o rio e vão trabalhar,
Educam
pessoas, homens do futuro,
Que
acabam fazendo
O
rio mais escuro.
Saudades
eu tenho
Da
areia branca.
Da
relva, das árvores
E
da preta lama
Que
agarra nos pés
E
faz xingar,
Mas
é muito bom ter
Um
rio para nadar.
Pulmão
de nossa nação
(Thiago Augusto - Felisburgo)
Árvore florida
Na
selva nascida de nossa nação
Ensina-nos a olhar o futuro
Refletindo no presente a
preservação
Olhando em frente, eu vejo
gente
Serra na mão, árvore no chão
Doí-me,parti-me o coração
Em ver da mãe terra arrancado
Por um duro machado
Mais um vivo pulmão.
Olhando o destino mais a
frente,
Vejo aquela mesma gente
Dele reclamar.
Na seca que castiga,eo calor
que maltrata,
No meio do resto da mata,no
velho rio que se arrasta
Não posso mais meu barco
singrar.
Escutai minha gente!
“Nossa terra em dores de
parto está”
Desarme tua mão
Tire de ti a devastação
Que afeta, mata, maltrata,
esculacha teu coração.
A natureza mãe não tem culpa
De seres tu, tão pobre, tão
frio, tão homem vazio
Sem vida, sem humanidade,
sem vista, sem verdade
Pare de matar!
Matar a vida que respiras,
que bebes,
Setens coragem a leves
Tudo precisa de ti
E enquanto tiveres aqui
Tudo precisará.
Use tua vida para acolhida
Não deixa de zelar
Zelar o bem, sem ver em quem
um dia ele pode esbarrar
Cuide, alimente o meio ambiente
que por ti ñ para de clamar:
-socorro homem!Homem!
Não precisas me matar. Aquele
que me criou
Um dia em ti soprou nas narinas
para de mim cuidar.
Dou-te tudo, de tudo em mim podes
Nas aguas te banhas, te
lavas,podes te saciar
Na terra, se erra, se planta,
se janta, se vive e se enterra.
Do ar respiras
E pensas nele habitar.
Então, por que me agrides?
por que queres me matar?
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