domingo, 6 de maio de 2018

NOITE LITERÁRIA "Ribeirão Pirosca" - III FEST AGUA

POEMAS PREMIADOS NA NOITE LITERÁRIA "Ribeirão Pirosca" - III FEST ÁGUA - Festival da Cultura Popular de Felisburgo em Consonância com o Meio Ambiente - A Cultura a Serviço da Biodiversidade. - 28 de abril de 2018 

 

1° Lugar

DESCANSE EM PAZ
(Herena Barcelos - Itinga-MG)



Do Rio Doce, De Mariana,

De Minas, do Brasil, do Mundo.

Procura-se os culpados

Da sujeira que cobre

Nosso presente.

Perdoados nossos pecados.

Pois, embora sempre ausentes,

Ainda agora, desavisados,

Estávamos devidamente enlutados

Por nossos rios secos.



Sufocou-se a esperança.



Agora é a lama podre

De resto de ferro e ganância

Que vai corando os leitos,

Empurrando no peito o que encontrar.

Assusta o grito das águas,

Mas é pior a corrente do silêncio,

Que leva a tristeza pro mar.

Uma oração para os corpos inocentes

Que existem agora sem alma, sem cura,

Sem gente, sem vida, sem viço,

Sem peixe, sem barco, sem rede.

A dúvida, já não futura:

O que será da nossa secura,

Se mesmo os rios que inda correm,

Agora, morrem de sede

2° Lugar

Paisagem da Morte
 (Vicentino Rodrigues - Itinga-MG)

O sol castiga a terra.
Leitos de areia,
Natureza pálida,
Semente prisioneira.

Cheiro de carniça,
Atalhos de ossadas,
Gado na maiada agoniza.
Pássaros partem em revoada.

Cruz na beira da estrada
De quem cumpriu sua sina,
Casa velha, abandonada.
Rastros se misturam na caatinga.

A morte é andarilha desinquieta.
A fome faz ronda no sertão.
A partida sem rumo é incerta,
Pois ainda restam raízes nesse chão.

3° Lugar 

Princesa Do Sertão
(Felipe Cortez - Taiobeiras)

O seu choro ecoou pelo serrado
Quando a água do riacho secou
E o céu azulado
Sob o sol escaldante
Ceifando a vida
Roubando sua cor

Entre arvores de galhos retorcidos
O gado está magro
E a plantação
Já se perdeu

Os seus pés estão cansados
Empoeirados pelo chão
Que já não celebra a vida
Desemboca Rio Pardo
Desemboca Rio Doce
Pra nunca mais voltar

Chora Mariana
Enche a Cantareira
Caminho de boto é descaminho
Nas águas do Andirá

Peixe no anzol,
Desconjuro no fundo do furo
Homem inventa fim pra si

OUTROS POEMAS DA NOITE LITERÁRIA "Ribeirão Pirosca"

Clamor à Fonte da Vida
(Bárbara Oliveira - Felisburgo)


Hoje enquanto passeava

Ouvi um grito que ressoava

Era minha mãe verde

Me dizendo estar com sede

E perguntando onde me encontrava



Disse: Mãe, eu estava aos prantos me derramando

Então ouvi a senhora me chamando

Mãe, já não vejo as minhas margens

Nem reflito as mesmas paisagens

Estou me acabando...



Ela disse: Filha, teu choro é em vão!

Então porque essa tempestade no coração?

Nas terras onde passo

Já não vejo mais o barco

Do poeta que o remava a mão



Então já não via também a beleza

E já não tinha a certeza

Que não o veria mais remar

Estou me acabando, quem vai me consolar?

Mãe natureza?



Ela disse: Eu me reciclo,

E você água, só pode seguir o teu ciclo.

Pois se tu parar

Tudo vai se acabar,

Continue mesmo que seja um microciclo



Vá, continue sua trajetória

Esses momentos guarde na memória!

Pois se um dia teu ciclo morrer

Todos, até eu vou perecer

Repensando a filosofia humana de salvar,
E refazer a presente história.



Acinzentaram o mundo.
(Daniel Davíe Pereira - Medina-MG)

Nas planícies cinzentas,
Nos mares sem mar..
Na lua ensolarada,num sol de luar...
Na vida de idas...nas paz de brigas...
No mundo desbotado,sem cor ou ar,sigo cambelando,de tristeza vou voar.
Mas cadê as asas,seu dotô?
Como é que eu vou...só sei que vou ..vou caminhar

Nas ondas de lamas
Nas areias que ardem,
Nos barcos sem rios,
Nas fontes sem água
Vidas de desafios
Seu Dotô,eu vou..
Como é que eu vou?? ...só sei que vou ..vou caminhar

Ar....ar...ar.. ar...!!!!
Eu vou..seu dotô eu vou...eu vou caminhar
Ar.. ar...ar...ar...!!!

Nas noites claras de sol...agora caem dos céus,as estrelas estão soltas...não vejo nuvens,não há sombrear...
Não vejo animais vivos,nem presenças “secular”...só mortes e dores
Podridão e horrores
Seu Dotô,eu vou..
Como é que eu vou?...só sei que vou ..vou caminhar

Eu vô..eu vô..seu dotô
Seu dotô eu ,eu vou tentar caminhar

Caminhando a galope,nos quatros cantos do mundos a só lamentar,
Vidas finitas,choro e rangeres de ossos
Silêncio infernais dos pássaros
Eu no meu pranto,enlouqueço e canto
Como é que eu vou?...só sei que vou ..vou caminhar
Eu vô..eu vô..seu dotô
Seu dotô eu ,eu vou tentar caminhar

Foste essa a herança que deixaste,um mundo sombrio e negro
Sem verdes ou cores,acinzentando-nos minuto a minuto,
Quem culpa temos seu Dotô??... que culpa temos??
Mas, eu vou,eu vou seu Dotô, seu que vou caminhar...
Sei que vou caminhar...
Sei que vou
Sei que
Sei...
 

 ECO LÓGICO
(Emídio Adalberto - Itinga-MG)

 
Se aos pássaros perguntares.
Quem polui os nossos ares,
onde os pulmões se consomem,
o eco, lógico, responde:
... homem... homem... homem...
E o húmus de nosso chão,
que resta pro nosso pão
logo após uma queimada?
O eco, lógico, responde:
... quase nada... quase nada...
O que era o Saara?
A Amazônia o que será?
Um futuro muito incerto?
O eco, lógico, responde:
... só deserto... só deserto...
O que reta, desmatando,
o que sobra, devastando,
ao homem depredador?
O eco, lógico, responde:
... só a dor... a dor... a dor...
Que precisa a natureza
pra manter sua beleza
e amainar a sua dor?
O eco, lógico, responde:
... mais amor... amor... amor...


A metade do produto do meio
(Luana Souza Viana - Felisburgo)

Quero te falar sem ofensas de um negócio
Eu sou matuto mas, um bom “poeteiro”
Não é venda, não é compra, mas é coisa de sócio.
Meu bem, nem tudo na vida envolve dinheiro.

Você tem medo de onça e de cobra
Não pechincha, paga caro no produto de couro.
Porque tem ganância e vaidade de sobra
Para a tal elite ostenta como se fosse ouro

E digo mais, tem coisas que não convém.
É tanta avareza, luxúria e desperdício.
Seu fim será na cova como um Zé ninguém
Aqui onde se vive mais parece um hospício

Este seu Meio já nem é tão verde assim
Pintaste as paredes de tantas cores
Preocupaste com tantas dores
Egoísta não conhece o meio do jardim

Por fim, veste pelo e usa jóias de Marfim.
Tantos luxos, futilidades e bens materiais.
Tudo em vão, tudo em troca de dim dim
Desconhece flores e outras belezas naturais

Acerto de contas
(Mário Monttinny - Jequitinhonha)

Água , Água
Terra seca
Não seja carrasca,
Oh mãe natureza, escute minha peleja.
Salva, Água.

Eu falei contigo
Era o trato amigo
Mas você não quis cumprir
Eu cuidava de você
Você cuidava de mim

Olhe bem sua memória
Reveja sua trajetória
Olha o troco que me deu

Pegou fundo a sua ganância
Você que saiu das minhas entranhas
Mostrou que nunca se importou
Maltratou-me
Eu pedia socorro
Socorro
Pareceu ser pouco
Você fingiu não ouvir

Meu rio doce, você fez amargo
Meus pés de árvore , você fez descalço
Não pensou no caso
Feriu a mim.

Arrancou minhas plantas
Meus filhos , passarinhos
Você os tirou do ninho
E quando não os queimava, em uma jaula os trancava
Mas trancava a mim.

Meu verde virou preto
Vejo-te agora em desespero
Eu mostrei que estava fraca
Que tudo que não se cuida, acaba
E acabou aqui

Parabéns bicho homem
O que tudo de bom consome
Você consumiu a mim
Agora é seu fim
Não tem mais jeito
Beba seu dinheiro , beba seu desprezo
Pois foi por eles que você me trocou.
 

 

Um rio
(Octacílio Mendes - Itinga)



Jequitinhonha a caminho do mar

Leva saudades que estão a rolar.

Leva cantiga

Em prosa e em verso.

Leva as tristezas, o universo.

Suas águas tranquilas

Passam serenas

Por entre Itinga,

Banhando o povo.

Águas de vida,

Repassa de novo.



As águas que passam

São lágrimas que rolam

De sofrimento, de fome que assolam.

A água produz e faz sempre

Guiar o povo do Vale

Que vive a mudar.



À noite em seu leito estão a descansar

As poucas onhas

Que o mercúrio não conseguiu matar.



Pela manhã no cais de Itinga

As professoras e sua rotina

Cruzam o rio e vão trabalhar,

Educam pessoas, homens do futuro,

Que acabam fazendo

O rio mais escuro.



Saudades eu tenho

Da areia branca.

Da relva, das árvores

E da preta lama

Que agarra nos pés

E faz xingar,

Mas é muito bom ter

Um rio para nadar.


Pulmão de nossa nação
(Thiago Augusto - Felisburgo)


Árvore florida
Na selva nascida de nossa nação
Ensina-nos a olhar o futuro
Refletindo no presente a preservação

Olhando em frente, eu vejo gente
Serra na mão, árvore no chão
Doí-me,parti-me o coração
Em ver da mãe terra arrancado
Por um duro machado
Mais um vivo pulmão.

Olhando o destino mais a frente,
 Vejo aquela mesma gente
Dele reclamar.
Na seca que castiga,eo calor que maltrata,
No meio do resto da mata,no velho rio que se arrasta
Não posso mais meu barco singrar.

Escutai minha gente!
“Nossa terra em dores de parto está”
Desarme tua mão
Tire de ti a devastação
Que afeta, mata, maltrata, esculacha teu coração.

A natureza mãe não tem culpa
De seres tu, tão pobre, tão frio, tão homem vazio
Sem vida, sem humanidade, sem vista, sem verdade
Pare de matar!

Matar a vida que respiras, que bebes,
Setens coragem a leves
Tudo precisa de ti
E enquanto tiveres aqui
Tudo precisará.
Use tua vida para acolhida
Não deixa de zelar
Zelar o bem, sem ver em quem um dia ele pode esbarrar
Cuide, alimente o meio ambiente que por ti ñ para de clamar:
­­­-socorro homem!Homem!
Não precisas me matar. Aquele que me criou
Um dia em ti soprou nas narinas para de mim cuidar.
 Dou-te tudo, de tudo em mim podes
Nas aguas te banhas, te lavas,podes te saciar
Na terra, se erra, se planta, se janta, se vive e se enterra.
Do ar respiras
E pensas nele habitar.
Então, por que me agrides? por que queres me matar?
 



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