A edificação tem uma história recente, mas ao analisá-la seja
pela ótica urbana ou antropológica, a construção da Igreja Nossa Senhora
D’ajuda foi de fundamental importância na implementação e atração para o
povoamento do bairro como também foi um marco religioso quando determina também
a sua denominação. Distante da região central de onde iniciou-se a formação do
núcleo original da cidade, o Bairro Nossa Senhora D’ajuda era a expansão dos
limites da cidade, era uma nova maneira de morar em ruas ortogonais e praças
com formas geométricas definidas, oposto do arruamento assimétrico e
desordenado de parte da região mais antiga.
Igreja Nossa Senhora D'ajuda - Felisburgo/MG |
Designação: BI 007 Igreja
Nossa Senhora D’ajuda
Tombamento: Decreto n° 012/99
Inscrição Livro do Tombo: N° 009 - Página 06
Retificação
do Decreto (grafia do nome da rua): 20/11/2019
Endereço: Rua Brasília, s/n – Bairro Nossa
Senhora D’ajuda
Propriedade: Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Uso Institucional: Institucional
Responsável: Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Inventário: 1998
Reconhecimento/aprovação IEPHA: 2020 - Exercício 2021
HISTÓRICO
A construção da Igreja Nossa Senhora D’ajuda marcou o
surgimento de um bairro em Felisburgo e trouxe cidadania e religiosidade à
comunidade que há tempos já estava necessitando de melhorias, por isso,
voltaremos à formação do povoado, seu crescimento e expansão urbana.
“A colonização e povoamento do Baixo
Jequitinhonha em Minas Gerais se deu com a apropriação privada do território de
caça, pesca e coleta dos boruns (botocudos), através de uma ocupação, que
integrou, à força, os indígenas ao mundo “civilizado”, dentro do modelo
europeu, aldeando, destribalizando e desculturando, ou exterminando, à medida
que os soldados e colonos foram invadindo a mata... gerando, no final do Século
a concentração de terra e riqueza”
(Cezar Moreno – 2001)
As
terras visitadas pelo Alferes José Ferreira (1871), tido como fundador do
Comercinho do Rubim do José Ferreira, atual Felisburgo, pertencia aos vastos
territórios dos índios boruns (botocudos). A partir dessa data, a ocupação do
povoado foi logo iniciada com a chegada dos primeiros moradores e forasteiros.
Assim, foi ganhando suas primeiras construções e sinais de arruamentos e
caminhos. No entanto, o Comercinho, apesar de existir desde o finalzinho do
Século XIX, só conseguiu a oficialização de sua existência depois da construção
da Igreja de São Sebastião (1902), onde foi celebrada a Primeira Missa, pelo
Padre Emereciano Alves de Oliveira (1903). Entre 1910 e 1911, foi inaugurado o Oratório de Nossa Senhora
do Rosário e São João Batista, onde hoje está construída a Escola Municipal
Euplínia Magalhães Barbosa. O Frei
Samuel Tetteroo, a partir de 1915, impulsionou a evangelização e inaugurou a Capela do Padroeiro São
Sebastião, na atual praça de mesmo nome. A Capela foi reformada posteriormente
pelo Frei Samuel Tetteroo que deixou mais dois projetos de igrejas antes de
partir: uma maior provavelmente para abrigar o Santo Padroeiro São Sebastião,
mas que veio se transformar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário; e, a outra
para São João Batista.
As
novas edificações eram singelas, de adobe de barro cru ou de enchimento e,
somente algumas maiores tinham uma técnica construtiva mais avançada. Em 1918,
o diamantinense, João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo, radicado no Comercinho do Rubim do José
Ferreira solicitou a mudança do nome para Felisburgo junto à Câmara Municipal
de Jequitinhonha. O topônimo é o resultado da fusão de duas palavras oriundas
do latim: Felix que significa feliz e burgus que significa cidade, assim, o
topônimo composto Felisburgo era o mesmo que Cidade da Felicidade. Em 1923, foi
criado o Distrito de Felisburgo pela Lei Estadual n° 843, de 07 de setembro de
1923, criado com terras desmembradas do Distrito de Joaíma e subordinado ao Município
de Jequitinhonha, Em 1927, Baptista Brazil tornou-se primeiro vereador eleito
para representar o Distrito na Câmara Municipal de Jequitinhonha, sendo
reeleito em 1936.
Este
era o painel urbano de Felisburgo no começo do século XX que com a nova
destinação administrativa e vereador na Câmara Municipal de Jequitinhonha teve seu
povoamento acelerado e novos moradores chegaram ao Distrito e,
consequentemente, novas construções foram erguidas.
A área de expansão urbana depois das margens
do Córrego José Ferreira seguiu terrenos de cotas mais altas, possivelmente devido às cheias.
As ruas tinham nomes peculiares e de significado local como do Pau Preto, a primeira
via de Felisburgo; Vai-quem-quer, atual Rua Nossa Senhora das Graças; Rua dos
Mocó, atual Rua Alfredo de Castro; do Sertão, atual Deputado José Mendes
Honório, dentre outros. Posteriormente, com a emancipação, começaram a surgir
os bairros aumentando o perímetro urbano.
O Distrito foi emancipado em 1° de março de 1963 e a expansão da cidade foi
crescente desde a década de 1980 com criação de novos loteamentos e vias de
casario simples e rústico construídos conforme uma tipologia comum na região
com pavimento térreo e cobertura em telha de barro geralmente em duas águas. A
ampliação da atual Avenida Brasil, cortando toda a cidade, foi marco
fundamental nesse aumento e deslocamento da malha urbana. Nessa Avenida estão o
centro comercial, os prédios mais antigos como o sobrado do Centro Cultural
Baptista Brazil, a Igreja Nossa Senhora do Rosário e o Antigo Mercado,
construções que datam da primeira metade do século XX. Naquela década, o poder
público adquiriu terras da fazenda de Liordino Souza Aguiar do lado esquerdo da
Avenida Brasil, a leste. O novo loteamento iniciou nos arredores da Praça Del
Rey com a construção de casas residenciais e pontos comerciais. O projeto de
urbanização se estendia até onde é hoje a rodoviária e o cemitério. As quadras
mais afastadas próximas ao limite urbano tinham ocupantes de classe mais
humildes e ruas sem pavimentação. Com a expansão da cidade, a Matriz de Nossa
Senhora do Rosário tornou-se distante para essa comunidade freqüentar as
missas. Os dirigentes católicos, sentindo as dificuldades de fieis freqüentarem
os cultos e reuniões com mais assiduidade, viram a necessidade de levar as
celebrações para perto dos moradores do bairro.
A comunidade então, muito devota a Nossa Senhora D’ajuda escolheu a santa para
dar nome ao bairro e a prefeitura oficializou a escolha. É muito comum na
região do Jequitinhonha essa devoção a Nossa Senhora D’ajuda talvez, pela
proximidade com o Arraial D’ajuda, um Distrito da cidade de Porto Seguro, na
Bahia, que a tem como Padroeira e ergueu seu santuário. Era tradição nas
décadas do início do século XX até por volta de 1970, as famílias se deslocavam
para o Santuário Baiano em caminhões fretados ou muitos iam a pé ou montado em
animais para pagarem promessas. Estas viagens duravam muitos dias. Eram
peregrinos que se sucumbiam ao desconforto da viagem, às estradas de terra
precárias e perigosas. A Festa da Padroeira ainda atrai milhares de fieis
devotos todos os meses de agosto para o Arraial D’ajuda, mas agora com ônibus
mais confortáveis, hotéis modernos e infraestrutura mínima para receber os
romeiros.
O processo de construção da igrejinha foi coordenado diretamente pelos
funcionários da Cáritas Diocesana de Almenara que atuavam na região: Irmão
Pedro, Raeth e Ana Luíza e com a participação ativa dos fieis da comunidade de
Felisburgo. Foram feitos vários leilões, campanhas, rifas, bingos para arrecadar
dinheiro em prol da construção e da compra do mobiliário da igreja. E assim, em
grande procissão, no início da década de 1980, os fiéis a inauguraram com
grande festa, levando imagens para pagar promessas e flores para enfeitá-la. A
igreja é, indubitavelmente, o centro religioso, cultural e social do bairro. É
de grande importância a sua preservação para a memória cultural e afetiva de um
povo que “faz milagres”.
Foi a partir da construção da Igreja Nossa Senhora D’ajuda e da sua denominação ao
nome do bairro que os moradores começaram a ver a urbanização da comunidade com
a pavimentação de ruas e calçadas. A igreja foi uma das responsáveis pela
expansão urbana da cidade e, também, como meio de ajuda para aquela comunidade,
fazendo jus ao nome da Santa e das suas atribuições que é comover-se com as
aflições dos outros, sensibilizar-se com seus sofrimentos e ajudar as pessoas
necessitadas.
A construção foi simples, pois os recursos eram precários,
foram feitas quatro paredes formando um retângulo e uma cobertura de telhado
cerâmico em duas águas com empena na fachada principal e beiral. Na década de
2000 sofreu alteração com a instalação de uma empena na fachada com forma
escalonada de tijolos suprimindo o beiral do telhado e escondendo a cobertura.
Foi instalado piso cerâmico e um forro de PVC e, ainda, uma elevação do piso,
unido à fachada posterior para instalação do altar principal. Não
se pode determinar um estilo arquitetônico ou tendência. É uma edificação
singela dentro dos costumes locais de construção e suas limitações técnicas.
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS
- SAINT-HILAIRE, August – Viagem pelo distrito dos diamantes e do litoral do Brasil – Belo
Horizonte – Itatiaia – 1974
- BRAZIL, Baptista – Inquérito
Pastoril e Agrícola do Município de Jequitinhonha – Jequitinhonha
Typographia Norte de Minas – 1922
- ANDRADE, Bruno M. Pereira – O Sertão do Jequitinhonha: demografia e família nas matas São Miguel do
Jequitinhonha (1889 – 1911) – 2011 – 98 f. – Monografia (Bacharelado em
História) Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – Mariana-MG – 2011.
AMARAL, Leila – Do
Jequitinhonha aos canaviais: em busca do paraíso mineiro. 3v – Belo
Horizonte – FAFICHI/UFMG – 1988 – Dissertação (Mestrado em Sociologia da Cultura).
- BOTELHO, Maria Izabel Vieira – O eterno reencontro entre o passado e o presente: um estudo sobre as
práticas culturais no Vale do Jequitinhonha – Araraquara/SP – UNESP – 1999
– Tese (Doutorado em Sociologia)
- FERREIRA, André Velloso Batista – A formação da Rede de Cidades do Vale do Jequitinhonha – 140f. –
Dissertação de Mestrado em Geografia – Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG – Belo Horizonte – 1999
- MARTINS, Marcos Lobato – O Jequitinhonha dos viajantes, séculos XIX e XX: olhares diversos sobre
as relações da sociedade – natureza no nordeste mineiro – varia História –
Belo Horizonte – vol 24, n° 40 - 2008
- MORENO, Cezar – A
colonização e o povoamento do Baixo Jequitinhonha no Século XIX: A Guerra
contra os Índios – Belo Horizonte – Canoa das Letras – 2001
- SANTIAGO, Luiz – O
Vale dos Boqueirões: História do Vale do Jequitinhonha – volume 1 –
Almenara – Edições Bocas da Caatinga – 1999
- PENA, Penélope Auxiliadora Peixoto – De Sétima Divisão Militar à cidade de Jequitinhonha – Belo
Horizonte – Editora Plurartis – 2003
VASCONCELLOS, Sylvio de – Dois Estudos – Porto Alegre – Instituto Estadual do Livro – 1960
EDUCPOESIA Blog – Resenha
da História de Felisburgo – 2012
DOCUMENTOS
ANEXOS
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Fotografias
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Áudios
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Ata(s)
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X
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Vídeos
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FICHA
TÉCNICA
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Fotografias
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Joeslane Gil da Silva e João Pedro Félix
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Vídeos
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Áudios
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Transcrição
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Gladiston Batista de Araújo
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Levantamento
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Paula Andréia Costa Santos e Gladiston Batista de Araújo
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Elaboração
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Gladiston Batista de Araújo
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Revisão
|
Azenilda Camargo Costa e Paula Andréia Costa Santos
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Local e Data
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22 de novembro de 2019
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