sexta-feira, 24 de julho de 2020

IGREJA NOSSA SENHORA D'AJUDA

A edificação tem uma história recente, mas ao analisá-la seja pela ótica urbana ou antropológica, a construção da Igreja Nossa Senhora D’ajuda foi de fundamental importância na implementação e atração para o povoamento do bairro como também foi um marco religioso quando determina também a sua denominação. Distante da região central de onde iniciou-se a formação do núcleo original da cidade, o Bairro Nossa Senhora D’ajuda era a expansão dos limites da cidade, era uma nova maneira de morar em ruas ortogonais e praças com formas geométricas definidas, oposto do arruamento assimétrico e desordenado de parte da região mais antiga.
Igreja Nossa Senhora D'ajuda - Felisburgo/MG
Designação: BI 007 Igreja Nossa Senhora D’ajuda
Tombamento: Decreto n° 012/99
Inscrição Livro do Tombo: N° 009 - Página 06
Retificação do Decreto (grafia do nome da rua): 20/11/2019
Endereço: Rua Brasília, s/n – Bairro Nossa Senhora D’ajuda
Propriedade: Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Uso Institucional: Institucional
Responsável: Paróquia Nossa Senhora do Rosário
Inventário: 1998
Reconhecimento/aprovação IEPHA: 2020 - Exercício 2021


HISTÓRICO
construção da Igreja Nossa Senhora D’ajuda marcou o surgimento de um bairro em Felisburgo e trouxe cidadania e religiosidade à comunidade que há tempos já estava necessitando de melhorias, por isso, voltaremos à formação do povoado, seu crescimento e expansão urbana.
“A colonização e povoamento do Baixo Jequitinhonha em Minas Gerais se deu com a apropriação privada do território de caça, pesca e coleta dos boruns (botocudos), através de uma ocupação, que integrou, à força, os indígenas ao mundo “civilizado”, dentro do modelo europeu, aldeando, destribalizando e desculturando, ou exterminando, à medida que os soldados e colonos foram invadindo a mata... gerando, no final do Século a concentração de terra e riqueza” (Cezar Moreno – 2001)
As terras visitadas pelo Alferes José Ferreira (1871), tido como fundador do Comercinho do Rubim do José Ferreira, atual Felisburgo, pertencia aos vastos territórios dos índios boruns (botocudos). A partir dessa data, a ocupação do povoado foi logo iniciada com a chegada dos primeiros moradores e forasteiros. Assim, foi ganhando suas primeiras construções e sinais de arruamentos e caminhos. No entanto, o Comercinho, apesar de existir desde o finalzinho do Século XIX, só conseguiu a oficialização de sua existência depois da construção da Igreja de São Sebastião (1902), onde foi celebrada a Primeira Missa, pelo Padre Emereciano Alves de Oliveira (1903). Entre 1910 e 1911, foi inaugurado o Oratório de Nossa Senhora do Rosário e São João Batista, onde hoje está construída a Escola Municipal Euplínia Magalhães Barbosa. O Frei Samuel Tetteroo, a partir de 1915, impulsionou a evangelização e inaugurou a Capela do Padroeiro São Sebastião, na atual praça de mesmo nome. A Capela foi reformada posteriormente pelo Frei Samuel Tetteroo que deixou mais dois projetos de igrejas antes de partir: uma maior provavelmente para abrigar o Santo Padroeiro São Sebastião, mas que veio se transformar na Igreja de Nossa Senhora do Rosário; e, a outra para São João Batista.
As novas edificações eram singelas, de adobe de barro cru ou de enchimento e, somente algumas maiores tinham uma técnica construtiva mais avançada. Em 1918, o diamantinense, João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo, radicado no Comercinho do Rubim do José Ferreira solicitou a mudança do nome para Felisburgo junto à Câmara Municipal de Jequitinhonha. O topônimo é o resultado da fusão de duas palavras oriundas do latim: Felix que significa feliz e burgus que significa cidade, assim, o topônimo composto Felisburgo era o mesmo que Cidade da Felicidade. Em 1923, foi criado o Distrito de Felisburgo pela Lei Estadual n° 843, de 07 de setembro de 1923, criado com terras desmembradas do Distrito de Joaíma e subordinado ao Município de Jequitinhonha, Em 1927, Baptista Brazil tornou-se primeiro vereador eleito para representar o Distrito na Câmara Municipal de Jequitinhonha, sendo reeleito em 1936.
Este era o painel urbano de Felisburgo no começo do século XX que com a nova destinação administrativa e vereador na Câmara Municipal de Jequitinhonha teve seu povoamento acelerado e novos moradores chegaram ao Distrito e, consequentemente, novas construções foram erguidas.
A área de expansão urbana depois das margens do Córrego José Ferreira seguiu terrenos de cotas  mais altas, possivelmente devido às cheias. As ruas tinham nomes peculiares e de significado local como do Pau Preto, a primeira via de Felisburgo; Vai-quem-quer, atual Rua Nossa Senhora das Graças; Rua dos Mocó, atual Rua Alfredo de Castro; do Sertão, atual Deputado José Mendes Honório, dentre outros. Posteriormente, com a emancipação, começaram a surgir os bairros aumentando o perímetro urbano.
Distrito foi emancipado em 1° de março de 1963 e a expansão da cidade foi crescente desde a década de 1980 com criação de novos loteamentos e vias de casario simples e rústico construídos conforme uma tipologia comum na região com pavimento térreo e cobertura em telha de barro geralmente em duas águas. A ampliação da atual Avenida Brasil, cortando toda a cidade, foi marco fundamental nesse aumento e deslocamento da malha urbana. Nessa Avenida estão o centro comercial, os prédios mais antigos como o sobrado do Centro Cultural Baptista Brazil, a Igreja Nossa Senhora do Rosário e o Antigo Mercado, construções que datam da primeira metade do século XX. Naquela década, o poder público adquiriu terras da fazenda de Liordino Souza Aguiar do lado esquerdo da Avenida Brasil, a leste. O novo loteamento iniciou nos arredores da Praça Del Rey com a construção de casas residenciais e pontos comerciais. O projeto de urbanização se estendia até onde é hoje a rodoviária e o cemitério. As quadras mais afastadas próximas ao limite urbano tinham ocupantes de classe mais humildes e ruas sem pavimentação. Com a expansão da cidade, a Matriz de Nossa Senhora do Rosário tornou-se distante para essa comunidade freqüentar as missas. Os dirigentes católicos, sentindo as dificuldades de fieis freqüentarem os cultos e reuniões com mais assiduidade, viram a necessidade de levar as celebrações para perto dos moradores do bairro.
comunidade então, muito devota a Nossa Senhora D’ajuda escolheu a santa para dar nome ao bairro e a prefeitura oficializou a escolha. É muito comum na região do Jequitinhonha essa devoção a Nossa Senhora D’ajuda talvez, pela proximidade com o Arraial D’ajuda, um Distrito da cidade de Porto Seguro, na Bahia, que a tem como Padroeira e ergueu seu santuário. Era tradição nas décadas do início do século XX até por volta de 1970, as famílias se deslocavam para o Santuário Baiano em caminhões fretados ou muitos iam a pé ou montado em animais para pagarem promessas. Estas viagens duravam muitos dias. Eram peregrinos que se sucumbiam ao desconforto da viagem, às estradas de terra precárias e perigosas. A Festa da Padroeira ainda atrai milhares de fieis devotos todos os meses de agosto para o Arraial D’ajuda, mas agora com ônibus mais confortáveis, hotéis modernos e infraestrutura mínima para receber os romeiros.
processo de construção da igrejinha foi coordenado diretamente pelos funcionários da Cáritas Diocesana de Almenara que atuavam na região: Irmão Pedro, Raeth e Ana Luíza e com a participação ativa dos fieis da comunidade de Felisburgo. Foram feitos vários leilões, campanhas, rifas, bingos para arrecadar dinheiro em prol da construção e da compra do mobiliário da igreja. E assim, em grande procissão, no início da década de 1980, os fiéis a inauguraram com grande festa, levando imagens para pagar promessas e flores para enfeitá-la. A igreja é, indubitavelmente, o centro religioso, cultural e social do bairro. É de grande importância a sua preservação para a memória cultural e afetiva de um povo que “faz milagres”.

Foi a partir da construção da Igreja Nossa Senhora D’ajuda e da sua denominação ao nome do bairro que os moradores começaram a ver a urbanização da comunidade com a pavimentação de ruas e calçadas. A igreja foi uma das responsáveis pela expansão urbana da cidade e, também, como meio de ajuda para aquela comunidade, fazendo jus ao nome da Santa e das suas atribuições que é comover-se com as aflições dos outros, sensibilizar-se com seus sofrimentos e ajudar as pessoas necessitadas.
A construção foi simples, pois os recursos eram precários, foram feitas quatro paredes formando um retângulo e uma cobertura de telhado cerâmico em duas águas com empena na fachada principal e beiral. Na década de 2000 sofreu alteração com a instalação de uma empena na fachada com forma escalonada de tijolos suprimindo o beiral do telhado e escondendo a cobertura. Foi instalado piso cerâmico e um forro de PVC e, ainda, uma elevação do piso, unido à fachada posterior para instalação do altar principal. Não se pode determinar um estilo arquitetônico ou tendência. É uma edificação singela dentro dos costumes locais de construção e suas limitações técnicas. 

REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS

- SAINT-HILAIRE, August – Viagem pelo distrito dos diamantes e do litoral do Brasil – Belo Horizonte – Itatiaia – 1974
- BRAZIL, Baptista – Inquérito Pastoril e Agrícola do Município de Jequitinhonha – Jequitinhonha Typographia Norte de Minas – 1922
- ANDRADE, Bruno M. Pereira – O Sertão do Jequitinhonha: demografia e família nas matas São Miguel do Jequitinhonha (1889 – 1911) – 2011 – 98 f. – Monografia (Bacharelado em História) Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – Mariana-MG – 2011. 
AMARAL, Leila – Do Jequitinhonha aos canaviais: em busca do paraíso mineiro. 3v – Belo Horizonte – FAFICHI/UFMG – 1988 – Dissertação (Mestrado em Sociologia da Cultura).
- BOTELHO, Maria Izabel Vieira – O eterno reencontro entre o passado e o presente: um estudo sobre as práticas culturais no Vale do Jequitinhonha – Araraquara/SP – UNESP – 1999 – Tese (Doutorado em Sociologia)
- FERREIRA, André Velloso Batista – A formação da Rede de Cidades do Vale do Jequitinhonha – 140f. – Dissertação de Mestrado em Geografia – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – Belo Horizonte – 1999
- MARTINS, Marcos Lobato – O Jequitinhonha dos viajantes, séculos XIX e XX: olhares diversos sobre as relações da sociedade – natureza no nordeste mineiro – varia História – Belo Horizonte – vol 24, n° 40 - 2008
- MORENO, Cezar – A colonização e o povoamento do Baixo Jequitinhonha no Século XIX: A Guerra contra os Índios – Belo Horizonte – Canoa das Letras – 2001
- SANTIAGO, Luiz – O Vale dos Boqueirões: História do Vale do Jequitinhonha – volume 1 – Almenara – Edições Bocas da Caatinga – 1999
- PENA, Penélope Auxiliadora Peixoto – De Sétima Divisão Militar à cidade de Jequitinhonha – Belo Horizonte – Editora Plurartis – 2003
VASCONCELLOS, Sylvio de – Dois Estudos – Porto Alegre – Instituto Estadual do Livro – 1960
EDUCPOESIA Blog – Resenha da História de Felisburgo – 2012
DOCUMENTOS ANEXOS
Fotografias
X
Áudios

Ata(s)
X
Vídeos

FICHA TÉCNICA
Fotografias
Joeslane Gil da Silva e João Pedro Félix
Vídeos

Áudios

Transcrição
Gladiston Batista de Araújo
Levantamento
Paula Andréia Costa Santos e Gladiston Batista de Araújo
Elaboração
Gladiston Batista de Araújo
Revisão
Azenilda Camargo Costa e Paula Andréia Costa Santos

Local e Data
22 de novembro de 2019





























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