O Sobrado, sem dúvida, representa um momento de maior prosperidade econômica, social, política e cultural de Felisburgo. É um legítimo modelo da implantação de novidades das tipologias arquitetônicas da época que surgiam para atender às demandas da sociedade e, nos tempos atuais, remete e revela um pouco da história do desenvolvimento da construção civil no Município. Também, nestes tempos, comporta atividades de cunho cultural, possibilitando a geração e fortalecimento do valor sociocultural.
Centro Cultural
Baptista Brazil – João Pedro Félix -
2020
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Designação: BI 003 Centro
Cultural Baptista Brazil
Tombamento: Decreto
n° 006/98
Inscrição Livro do Tombo: N° 005 - Página 04
Endereço: Avenida Brasil, 584 - Centro
Propriedade: Prefeitura Municipal de Felisburgo
Uso Institucional: Centro Cultural e Minimuseu
Responsável: Prefeitura Municipal de Felisburgo
Inventário: 1998
Reconhecido pelo IEPHA: 2020 Exercício 2021
HISTÓRICO
As
terras visitadas pelo Alferes José Ferreira (1871), tido como fundador do
Comercinho do Rubim do José Ferreira, atual Felisburgo, pertencia aos vastos
territórios dos índios boruns (botocudos). A partir dessa data, a ocupação do
povoado foi logo iniciada com a chegada dos primeiros moradores e forasteiros.
Assim, foi ganhando suas primeiras construções e sinais de arruamentos e caminhos.
No entanto, o Comercinho, apesar de existir desde o finalzinho do Século XIX,
só conseguiu a oficialização de sua existência depois da construção da Igreja
de São Sebastião (1902), onde foi celebrada a Primeira Missa, pelo Padre
Emereciano Alves de Oliveira (1903). Em 1918, o diamantinense, João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo, radicado no Comercinho do Rubim do José
Ferreira solicitou a mudança do nome para Felisburgo junto à Câmara Municipal
de Jequitinhonha. Em 1923, foi criado o Distrito de Felisburgo pela Lei
Estadual n° 843, de 07 de setembro de 1923, criado com terras desmembradas do
Distrito de Joaíma e subordinado ao Município de Jequitinhonha, Em 1927,
Baptista Brazil tornou-se primeiro vereador eleito para representar o Distrito
na Câmara Municipal de Jequitinhonha, sendo reeleito em 1936.
Com a nova destinação
administrativa e vereador eleito, Felisburgo teve seu povoamento acelerado e
novos moradores chegaram ao Distrito e, consequentemente, novas construções
também como o Sobrado onde funciona hoje o Centro Cultural Baptista Brazil. Não
foram encontradas fontes que comprovem a sua data, nem seu proprietário
original, sabe-se apenas que sua construção ocorreu no final da década de 1920;
era apenas mais um sobrado como tantos outros do interior de Minas Gerais que
já fazia a diferenciação do status quo
do seu dono. Era diferenciado das demais construções simples da época, imponente
no meio de uma ladeira (ladeira da Avenida Brasil atualmente), poderia de la,
das suas janelas, ter uma visão panorâmica de todo o povoado. Segundo moradores
mais antigos, funcionava no prédio uma loja.
Pela Lei Estadual n° 336 de 27 de
dezembro de 1948, o Distrito de Felisburgo passa a pertencer ao recém
emancipado Município de Joaíma até a sua emancipação em 1° de Março de 1963,
quando o primeiro intendente do Município, cargo equivalente ao de prefeito,
Dário Félix Ferreira ocupou o Sobrado e o transformou na Sede do Poder
Executivo de Felisburgo. O primeiro prefeito eleito, em 1964, Jair Dias Pinto
Coelho que lá continuou na sua gestão.
O Sobrado, ao longo de sua
história, segundos relatos populares, abrigou também um açougue no seu
pavimento inferior. Já foi uma Cantina
Comunitária; a Biblioteca Pública Municipal; um Posto Telefônico da extinta TELEMIG
e escritorios do IMA e SIAT. Desde a sua construção sofreu apenas duas
intervenções maiores, mas que não comprometeram suas características originais.
Foi reformado em 1970 e restaurado no ano 2000.
Em outubro de 1990, com a criação
do CCBB – Centro Cultural Baptista Brazil, pela então Secretária Municipal de
Cultura Alice Pereira de Souza, o prédio foi destinado para ser sua Sede. O
CCBB é um espaço público, aberto à visitação e pesquisa, que guarda um
Minimuseu de grande valor histórico, com peças e documentos memoráveis dos
antepassados de Felisburgo. Além das obras, objetos e documentos de Baptista
Brazil, guarda obras de outros artistas importantes do Município: o Presépio
e escuturas de Mestra Cirila; Quadros de Glória de Cássia e Jota Murta. Sem
dúvida, é um pólo irradiador e gerador de cultura em todo o Município.
João Baptista Brazil Lopes de Figueiredo – Arquivo do Centro Cultural |
João Baptista Brazil Lopes de
Figueiredo, seu Patrono, nasceu a 10 de setembro de 1887, na cidade mineira de
Diamantina. Era filho de família aristocrata tradicional, teve sua formação
intelectual desenvolvida pela convivência num grupo de escritores mineiros que
floresceu em Belo Horizonte, la pelos anos de 1908 e 1909. Estes jovens
escritores respiravam o ar da nova capital, que caminhava nos horizontes claros
do progresso e que despertava nos homens um desejo de vitória, um anseio de
cultura, uma vontade de refazer tudo nos moldes de uma civilização nova. Foi
num ambiente assim que se formou o poeta Baptista Brazil.
Mas, um dia Baptista Brazil partiu da cidade, da vida urbana agitada e transferiu-se
da Capital para a cidade de Fortaleza, atual Pedra Azul, a convite do médico e
também poeta Clemente Faria, onde abriram uma tipografia e uma fábrica de
doces. Onde atuou intensamente na imprensa, criando os jornais “O Norte” e “O
Rádio”. Após alguns anos, ele conheceu em uma viagem de negócios ao então
Comercinho do Rubim do José Ferreira, aquela que seria sua esposa, Tiburçulina
Gonçalves, carinhosamente chamada de Dona Iaiá, e após casar-se mudou
definitivamente para a Fazenda de sua esposa que ele a denominou de Ramayana.
Em terras felisburguenses foi um cidadão atuante, tanto como vereador por dois
mandatos como também escritor deixando mais de vinte livros. Foi um dos mais
ilustres moradores, com participação social e, inclusive, um dos benfeitores
das obras de construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário,
inaugurada em 1956 (Ele faleceu alguns anos antes da inauguração). Baptista
Brazil faleceu em 15 de setembro de 1951, aos 64 anos, e foi sepultado no
cemitério da Fazenda Ramayana. Alguns anos depois, seus familiares construíram
o túmulo e uma capela no local. Em 2010, seus restos mortais e de sua esposa
Tiburçulina Gonçalves foram exumados e transferidos juntamente com o túmulo
para o Cemitério Municipal de Felisburgo.
“Quando
fui apresentado a Baptista Brazil, Roberto Costa, o grande amigo dos
intelectuais mineiros, fez questão de frisar: Baptista com P e Brazil com Z.
Perguntei a razão porque assinava daquele modo, alheio às modificações da
ortografia e o poeta explicou, com modéstia: “É tradicional, é mais de acordo
comigo”. Tudo em Baptista Brazil mostra o poeta que vive nele. O poeta completa
e explica o homem”. (Bueno de Rivera – Jornal Agricultura e
Pecuária – Belo Horizonte, 10 de abril de 1949)
Baptista Brazil, indubitavelmente, desenvolveu habilidade e se tornou num dos homens
mais influentes da região. Foi escritor, poeta, jornalista, farmacêutico,
político, ambientalista, médium e fazendeiro. Teve merecido sucesso e
reconhecimento em todas as suas áreas de atuação, mas seu maior legado está
diretamente ligado à arte da escrita. Sua obra poética é de uma riqueza que
dispensa elogios. A obra de Baptista Brazil traduz e reflete a alma das musas
das artes e transcende para um infinito espiritual que extrapola tempo e
espaço. Baptista trouxe de berço o orgulho ancestral dos povos que têm
história... Mereceu dar, sem sombras de dúvidas, nome ao Centro de referência
cultural do Município.
REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS
- BRAZIL, Baptista – Inquérito
Pastoril e Agrícola do Município de Jequitinhonha – Jequitinhonha
Typographia Norte de Minas – 1922
- ANDRADE, Bruno M. Pereira – O Sertão do Jequitinhonha: demografia e família nas matas São Miguel do
Jequitinhonha (1889 – 1911) – 2011 – 98 f. – Monografia (Bacharelado em
História) Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – Mariana-MG – 2011.
AMARAL, Leila – Do
Jequitinhonha aos canaviais: em busca do paraíso mineiro. 3v – Belo
Horizonte – FAFICHI/UFMG – 1988 – Dissertação (Mestrado em Sociologia da
Cultura).
- BOTELHO, Maria Izabel Vieira – O eterno reencontro entre o passado e o presente: um estudo sobre as
práticas culturais no Vale do Jequitinhonha – Araraquara/SP – UNESP – 1999
– Tese (Doutorado em Sociologia)
- FERREIRA, André Velloso Batista – A formação da Rede de Cidades do Vale do Jequitinhonha – 140f. –
Dissertação de Mestrado em Geografia – Universidade Federal de Minas Gerais –
UFMG – Belo Horizonte – 1999
- MORENO, Cezar – A
colonização e o povoamento do Baixo Jequitinhonha no Século XIX: A Guerra
contra os Índios – Belo Horizonte – Canoa das Letras – 2001
- SANTIAGO, Luiz – O
Vale dos Boqueirões: História do Vale do Jequitinhonha – volume 1 –
Almenara – Edições Bocas da Caatinga – 1999
- PENA, Penélope Auxiliadora Peixoto – De Sétima Divisão Militar à cidade de Jequitinhonha – Belo
Horizonte – Editora Plurartis – 2003
VASCONCELLOS, Sylvio de – Dois Estudos – Porto Alegre – Instituto Estadual do Livro – 1960
EDUCPOESIA Blog – Resenha
da História de Felisburgo – 2012
RIVERA, Bruno – Jornal
Agricultura e Pecuária – Belo Horizonte, 10 de abril de 1949
DOCUMENTOS
ANEXOS
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Fotografias
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X
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Áudios
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Ata(s)
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X
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Vídeos
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FICHA
TÉCNICA
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Fotografias
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Joeslane Gil da Silva e João Pedro Félix
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Vídeos
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Áudios
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Transcrição
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Gladiston Batista de Araújo
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Levantamento
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Paula Andréia Costa Santos e Gladiston Batista de Araújo
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Elaboração
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Gladiston Batista de Araújo
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Revisão
|
Azenilda Camargo Costa e Paula Andréia Costa Santos
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Local e Data
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22 de novembro de 2019
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